sábado, 22 de novembro de 2008

Letras X números

Que angústia! Por que eu não me apeguei aos números invés das letras? Hoje, graduado em alguma área das exatas, caso fosse um licenciado, seria professor dos mais cobiçados, ou bacharel muito talentoso. Mas preferi as letras, e por mais descapitalizado que eu seja por conta disso, ainda que angustiado, não me arrependo. Se eu conseguir viver o suficiente para ter grandes amores e curtir grandes aventuras, já terá valido a pena. Aliás, como já fiz um pouco de cada, com mais um pouco não morrerei frustrado.

Se eu fosse dos números, decerto seria um bruto que não vê beleza numa flor, nem num gesto doce. Dificilmente eu gostaria das músicas que gosto e me valeria de qualquer uma para refletir sobre minha vida. Jamais teria lido os livros que li e releio vez em quando. Sonharia com fórmulas matemáticas e usaria uma linguagem difusa e com o mínimo de lógica aos não-iniciados. Talvez sequer parasse para ver um quadro, embora eu ressalte aqui que não costumo absorver nem dizer muito dos que observo.

É verdade que nem todos das exatas são assim. Conheço camaradas que são pessoas normais apesar de viverem pensando em números. Eu que seria o avesso de mim. Não é a realidade que eu estou descrevendo.

Ah, eu poderia estar num centro de pesquisa agora comendo frituras, engordando, meio cego e ganhando muito dinheiro com pouco tempo para gastá-lo. Ganharia um prêmio, tornar-me-ia famoso e o presidente da república condecorar-me-ia com a honra ao mérito. Um pouco mais de empenho levar-me-ia à Lua.

Eu desprezei os números em favor das letras, e sou inacreditavelmente feliz. Remorsos, nenhum. Eu só gostaria de ganhar mais dinheiro sem precisar reservar tempo demais ao trabalho. Dinheiro, todos o querem sempre mais.

Pensando melhor, deve haver um modo de ser feliz com pouco dinheiro. E se eu fosse tudo o que não sou como seria?

Eu seria mais fudido do que eu sou.