segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Despertencimento

Eu pensava que iria me divertir como na última noite. Botei uma roupa legal, meu sapato mais bonito, perfume de marca reconhecida que ganhei num amigo secreto. Saí na companhia de meu irmão, que carregava orgulhosamente uma garrafa de destilado caríssimo, incompatível com nossos honorários.

Naquela noite, eu bebi muitas cervejas e doses de sei lá o quê que me deram. No outro dia, ressaca terrível, contudo alma satisfeita. Esta noite não correspondeu às minhas expectativas. Acabou o destilado e, assim como a garrafa, esvaziei-me. Tomei a água com gás que tanto recomendou-me minha tia orgulho da família no quesito beleza a fazer todas as vezes em que consumisse tal bebida.

Música ruim rolando, um monte de pessoas conhecidas e, portanto, mais desconhecidas do que as desconhecidas. Não suportei estar lúcido naquele ambiente. Porque o destilado de que falo tem esse poder de embriagar-me sem me amalucar, como o vinho. Ainda bem que não sentiram minha falta, pois não conseguiria dar outra resposta pela ausência senão "não sei". Agora, eu sei o porquê, claro. Senti-me despertencente àquele lugar, àquelas pessoas.

Entendo a embriaguez contínua de Vinícius de Moraes enfim. Para suportar tanta futilidade e tédio, no meu caso, somente estando fora de si. É incrível a incompatibilidade de interesses entre mim e meus conterrâneos. Por isso tenho tão poucos amigos por aqui. Presumo até o tipo de comentários que destilam sobre mim, pena que não é whisky.

Esforço-me para aproveitar ao máximo as festas populares da terrinha, a combater o tédio. Entretanto, a garrafa sempre termina vazia. E eu também.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Carlos Latuff sobre a revisão da Lei de Anistia

Punidos e impunes da Anistia

Com todo esse burburinho sobre a revisão da Lei de Anistia prevista no Programa Nacional de Direitos Humanos, um discurso tem sido frequente. Que se deva apurar os crimes cometidos de ambos os lados durante o regime militar, tanto dos militantes de esquerda quanto das forças de repressão.

O que a primeira vista pode parecer uma posição de aparente equilíbrio, traz na verdade um conceito reacionário, de que a resistência armada a um regime de exceção seja vista como crime (criminalização).

Não nos esqueçamos de que os militantes de esquerda que lutaram contra a ditadura militar no Brasil já tiveram punição suficiente. Foram presos, cassados, implacavelmente torturados, executados, desaparecidos. Já seus carrascos, sem nenhum arranhão, escaparam tranquilos da Justiça, indo se refugiar nos braços da Lei de Anistia, inclusive reverenciados pelos seus atuais colegas de farda nos clubes militares da vida.

Levar ao banco dos réus ex-militantes que pegaram em armas para enfrentar fascistas no Brasil seria tão absurdo quanto julgar os partisans pelos atentados cometidos contra militares alemães durante a ocupação da França na Segunda Guerra Mundial. É confundir, maliciosamente, vítimas com algozes...mais uma vez.

Por isso, meus caros internautas, eu lhes trago este checklist, para que possam imprimir em papel cartão, num tamanho que caiba no bolso ou dentro da carteira. Quando o assunto for revisão da Lei de Anistia e alguém lhe disser que "ambos os lados devam ser punidos", mostre essa charge, só como um lembrete de mais essa verdade inconveniente.

Carlos Latuff*

Link: http://latuff2.deviantart.com/art/Punidos-e-impunes-da-Anistia-150024725

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*Cartunista carioca, dedica sua arte a denunciar as mazelas da sociedade contemporânea e, especialmente, em apoio à causa palestina. Um homem, como se vê, extremamente sóbrio em mar etílico.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Interrogação


Enquanto eu espero que o ano novo me traga algo de novo, fica a interrogação. Desconjuntado, entediado. Sem forças para escrever mais do que três linhas. Pronto, acabou.