terça-feira, 30 de março de 2010

À Terra Santa na semana santa

Esta imagem é apenas um exemplo do que pode ser encontrado no site cghub.com, onde artistas expõem seus trabalhos. Mas não é à toa que ela está aí.

Depois de um mês muito estressante, preciso de um repouso, aconchegante, ar fresco e um perfume fraquinho. Vou à Terra Santa nesta semana santa, beber vinho e o que mais for conveniente à sede. E vou sentir o cheiro de caatinga molhada, e, se encontrar, esperar o tempo passar debaixo duma flor. Somente uma existência assim me trará o conforto esperado.

"Não há oh gente oh não..."

domingo, 21 de março de 2010

Literatura de criança?

Sazonalmente trago para este espaço reflexões de caráter conceitual das coisas que mais ocupam minha mente. E literatura já me é. Leio pouco, tento porém cadenciar a leitura com boas notas. Vasculho as estantes de livros sempre, primeiro, à procura de clássicos e deparo-me com outros títulos interessantes, não-clássicos, que parecem magnetizados. Hipnotizam-me: "Leia-me!". Isso vem acontecendo com muita frequência com um tipo de livro específico, aqueles da literatura infanto-juvenil.

Essa literatura feita ou não, pensada ou não para uma faixa etária tem causado um alvoroço nos meus ânimos leiturísticos. O universo fabuloso, mágico, lúdico e encantador de livros como O menino do dedo verde (Maurice Druon), O visconde partido ao meio (Italo Calvino), por exemplo, fizeram-me negligenciar a leitura de O memorial do Convento, do José Saramago, por sinal um livro que dialoga com o mesmo imaginário, apesar de ser uma recontagem de fatos históricos documentados.

Fui impactado por uma pequena avalanche de boas risadas e grandes reflexões metafísicas. Tistu, o menino do dedo verde que faz tudo florescer, acaba com uma guerra e faz as pessoas felizes, não se conforma com o mundo tal como é, e transforma a cidade de Mirapólvora em Miraflores. O visconde Medardo di Terralba, por sua vez, vai à guerra e volta dividido de norte a sul em uma parte boa e outra má, ambas cometendo absurdos e nos mostrando o quanto o equílibrio é importante. Entre cenas hilárias, percebemos que a incompletude que nos assalta não pode ser resolvida apenas numa parte, tem de haver o todo.

E assim vou renegando de forma contumaz a má impressão que muitos têm de que a categoria infanto-juvenil é dispensável aos adultos, que serve apenas para instigar o gosto pela leitura nas nossas crianças. Não, não. Há poesia lá, não pode ser inferiorizada. Obviamente uma criança demorará um bocado para entender as entrelinhas. Mas entenderá.

Enfim, é tudo literatura, aliás, boa literatura. O Pequeno Príncipe, do magnífico Antoine de Saint-Exupéry, por si só já é um grande e sólido argumento.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Sobre A Metamorfose, de Franz Kafka


Fechei o livro e indaguei-me se ele teria sido feito para ser odiado, pois senti algo parecido durante a leitura. Como pode isso? Como aquilo? Eram frequentes. Quase desisti de ler, mas pela parcimônia no número de folhas, prossegui. E não me arrependi. Sim, porque A Metamorfose é um tipo de novela intrigante, porém contundente, onde Franz Kafka nos faz sentir nojo de nós mesmos.

Quantas obras literárias não tratam da mesma coisa? Muitas em muitos lugares do mundo refletem acerca da hipocrisia humana, talvez nenhuma trate da desumanização tal qual a obra de Kafka. Agora entendo as loas à sua magnificência literária.

Não irei contar os detalhes do enredo. Leiam o livro! É moderno e imprevisível. Adianto apenas que o personagem principal não se transforma numa barata. Portanto, meninas, tranquilizem-se, nenhum inseto saltará das páginas (só o inverso pode acontecer).

Do gênero humano, às vezes não se nota que dele se pode esperar qualquer coisa possível aos seus meandros. Literatura não é um divã, tampouco um oráculo dos deuses. O que está lá veio de fora. E, odiando ou não o que alguém como Franz Kafka escreve, é isso o que se vê pela "janela da alma" cotidianamente. Humanos bons, humanos maus, as duas coisas num só corpo e mente. Ler um livro ao menos nos permite sondar as entranhas do humano sem graves consequências.

E é o que dizem, não se pode mudar o mundo sozinho. Mas o sozinho pode se metamorfosear. E, sim, A Metamorfose é um ótimo livro apesar de tudo. Eu só odeio o que Kafka, suponho, também odiaria.