sábado, 1 de dezembro de 2012

Rio-Mar


O rio corre sempre para o mar, ainda que deságue em outros rios, ou que outros rios se encontrem nele, seu destino é se juntar ao sal, virar nuvem e virar rio novamente no mar. Até se formar esta simbiose, o rio se esquiva, ora engradece, ora se humilha pelas passagens esguias. Mas sempre chega ao mar. E o mar o recebe, pois são a mesma água, a mesma fonte de vida. Lá, o rio esquece que é rio e se torna mar, o mar dos navegantes, dos piratas, o mar de Fernando em Pessoa de Álvaro de Campos na sua Ode Marítima, o mar de nosso poeta maior, Camões, de todos Os Lusíadas, das algas marinhas que liberam o oxigênio, que separa os continentes, que é belo e feroz, o mar do menino filho de pescador, da menina praieira, do aventureiro, do boêmio, de quem passa, o mar onde se deitam a lua, o sol, as estrelas, o infinito. Para o rio todos voltam para ter sua porção de doçura.

Há um momento, porém,  em que ninguém sabe onde o mar, o céu e o rio começam ou terminam: quando chove.

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Foto: A paisagem mais bela que meus olhos puderam ver durante tanto tempo. Continuará a ser meu refúgio do mundo. Rio Mundaú, Branquinha-AL, antes da enchente de 18 de junho de 2010.