quarta-feira, 14 de novembro de 2012

As mãos de Irinéia



Irinéia era a menina que bulia no barro por curiosidade.

Cresceu, casou, veio uma penca de filhos e, após o primeiro casamento, encontrou Antonio, seu "veio" e aprendiz primogênito.

Não se contentava em fazer apenas panelas e cuidar da casa e dos filhos. A curiosidade a persegue por toda a vida, atiça-lhe a criatividade, inquieta suas mãos. Sutis, precisas, a moldar o barro sob o olhar carregado de história.

Antonio deixou de buscar o barro preto no campo verde para sentar tijolos (afinal os tempos mudaram...). O barro que ergueu tantos lares no Muquém e redondezas, agora servia a arte de Irinéia e, então, conhecemos uma artista filha do Quilombo dos Palmares.

Com as mãos já cansadas de toda uma vida, mas ainda firmes, Dona Irinéia retrata o mundo, lendo e relendo-o, transformando o barro informe.

Sua técnica é simples. Seus instrumentos, rudimentares e improvisados. A arte, no entanto, evoca ancestralidade, uma expressão livre. Ora bem detalhadas, ora lisas e suavemente arredondadas (seu traço peculiar). Porém, sempre equilibradas e em consonância com a medida do seu olhar e toque.

Criando outro mundo de barro com suas mãos de menina curiosa.

10 de novembro de 2012