sábado, 25 de abril de 2009

Sublimação

Sublimação: em Química, passagem do estado sólido para o gasoso (sem passar pelo líquido). Na minha débil ciência especulativa, é o que acontece com pessoas extraordinárias que deixam este mundo e vão sei lá pra onde, céu, inferno, além, depende da crença, ou simplesmente para a terra.

Domingo, sublimou-se um amigo muito querido, que me mostrou outra forma de crer no transcendental diferente do catolicismo. Antigamente nem nos falávamos bem quando viera morar na "minha" rua, em Brank City. Com o tempo, percebi a pessoa inteligente e divertida por trás daquele azedume cotidiano. Tornamo-nos amigos. Era o Edvaldo Júnior, o Junim Covardim, como denominávamos o seu sarcasmo peculiar.

Hoje, recebi a notícia, mais uma triste notícia, da sublimação de um brother que dispensa comentários, como se diz. Wilton, o baixista fenomenal, o filósofo irrequieto, o cara simpático de cabelo black power e sorriso cativante, sublimou-se.

Diletos leitores deste blog, pelo último post vocês já devem ter percebido o quanto amo e estimo meus amigos. Amo a todos, embora eu nem diga isso para alguns, pois é desnecessário. Esta semana foi muito infeliz, apesar de toda a euforia extravasada nos shows d'Os Paralamas do Sucesso e Titãs (iria escrever sobre isso, ainda bem que não tive tempo). A tristeza é sempre mais forte que a alegria, e esta é tão efêmera... fugaz.

Agora esses irmãos que sublimaram aguardam por nós.

Wilton e Junim, obrigado, muito obrigado mesmo! Vocês me deram alegrias e boas lembranças. Até logo!

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Reconstruir

Reconstruir... é necessário, mas cansa. Estou cansado de ter de reconstruir o mundo, reconstruir a sociedade, reconstruir os fragmentos que formam as coisas, reconstruir o reconstruir. Que dança interminável é essa? O que vejo, se é uma realidade real, se existe, é um processo avançadíssimo de destruição. Escatologia, dir-se-ia.

Um dos meus melhores amigos sofreu um acidente, deslizou nas escadarias e bateu a cabeça. Perdeu 40% da memória, aproximadamente. Das poucas lembranças que ainda tem sobre amigos e demais pessoas de seu entorno, lembrou-se de mim, da minha fisionomia, nome, o que faço. Em geral, são recordações muito recentes das últimas conversas que tivemos por telefone ou MSN. Evaporaram-se os grandes momentos que passamos juntos de alegria e tristeza. Coube a mim e a outros a missão de ajudá-lo a reconstruir sua memória, e, por consequência, sua afetividade. Minha primeira atitude foi montar slides com fotos e textos de alguns momentos inesquecíveis (!).

Surpreendi-me porque não caí aos prantos nem perdi a vontade de fazer as atividades cotidianas. Já chorei muito em conversas telefônicas quando me contara sobre os flagelos sofridos no Rio de Janeiro. Hoje, simplesmente não entendo a ausência das lágrimas. Temo que isso seja um passo à insensibilidade que tanto combato.

Parece que estou vivendo um capítulo de novela daqueles onde o protagonista perde a memória. Jamais imaginei uma situação dessa em minha vida. Na ficção "tudo sempre acaba bem", o herói recupera as perdas e volta para os braços da mocinha, e neste intervalo mata o vilão. Na realidade, essa realidade real, sobra a esperança lonqínqua de que tudo re-torne. Afinal, não está tudo lá ainda na cabeça dele, porém desconectado? (Se você que lê esse texto souber algo de neurologia, explica-me melhor, corrige-me).

Enquanto a natureza não responder, vou tentando como me é possível ajudá-lo. Ponho a massa esperando o tijolo.

Fernando, meu irmão mais velho, nem a sua desmemória me fará desistir de ti. Porque eu te amo.

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WILTON, estamos aguardando-te!