sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Retrato de carnaval, frevo e maisena

Na cadeira, com uma blusa vermelha e uma calça jeans contrastando, minha mãe sorri comigo no colo, empoeirado de maisena, cabelos encaracolados. Eu tinha dois ou três anos, vestia uma blusa com listras amarelas e brancas. Ao nosso lado, tia Neuma de óculos escuros, blusa azul marinho com barra vermelha nas mangas, apoiando o queixo no pulso levemente fechado, esboçando seu sorriso peculiar, que o fotógrafo apressado não esperou surgir entre a maisena. Meu pai traja calças de brim azul, alpercatas de couro, uma camiseta branca, sorri espalhafatosamente abraçado ao Seu Geraldo, este de calça marrom, alpercatas e camisa de botão preta (ou seria azul escuro?) aberta, peito senil à mostra e uma caneca de alumínio refletindo o flash da câmera. Caneca certamente cheia de cerveja e outras aliterações. Ambos batizados de maisena. Mais à direita de quem olha o retrato, meus primos, Kiko e Júnior de sandálias Havaianas, bermudas bem curtas e coloridas de listras azuis, amarelas e vermelhas. Kiko sem blusa, Junior de regata azul claro, cabelos alvoroçados, cobertos de maisena e com toda travessura carnavalesca possível nos sorrisos. Ao fundo, alguns foliões, também embranquiçados de maisena, mas a foto não registra o sorriso de nenhum deles. A música, um frevo bem quente, toca nesta hora, ministrada pela orquestra encarregada de animar as matinês e bailes das noites durante todo o Carnaval, até chegar o momento da Bandeira Branca e sair pelas ruas com o bacalhau na vara. Enfim, chega a quarta-feira ingrata. E vamos dormir e depois da brincadeira, tomamos banho para tirar o pó dos ouvidos. E vivemos mais um ano para repetir tudo de novo, fazer uma foto diferente.