sábado, 19 de dezembro de 2009

Reflexão para o Natal

Natal. Novamante aquelas luzes coloridas e intermintentes por todos os lados, uma diversidade de enfeites, músicas irritantes. Tudo isso em nome do consumismo, porque se vierem me dizer que é a celebração disso ou daquilo, esforçar-me-ei para não retrucar com agressividade, no estilo fala o que quer, ouve o que não quer.

Difícil acreditar que a humanidade, cuja capacidade intelectual só encurta a distância entre o impensável e o realizável a cada dia, seja capaz de cometer tantas atrocidades. Acelera-se o aquecimento do planeta, mas a única atitude que os líderes mundiais, reunidos em Copenhague, mostraram-se aptos a executar foi a de ler seus discursos infames.

Natal e aquecimento global fazem uma rima ótima. Um tenta sustentar que o homem é bom, generoso, sentimental. O outro só demonstra com rigor a natureza humana, sua crueza e deslealdade implacvável, egoísta, má. Quão distante é a realidade dos comerciais deste período natalino, de festas de fim de ano. A televisão vende um produto que não existe, entretanto que dá lucro: a ilusão.

Ilusão de que é preciso dar presentes para felicitar as pessoas do nosso derredor. Ilusão de que para ser católico basta ir à missa de Natal e Ano Novo. Ilusão de que o ambiente de trabalho melhorará após as brincadeiras de amigos secretos. Ilusão de que no ano vindouro tudo se renovará.

Ainda nem aprendemos a respeitar-nos mutuamente. Veja o desdém dos capitalistas devoradores, perceba como eles simplesmente não se importam com o futuro do planeta. E quando fazem caridade? Oh, como são cínicos aqueles sorrisos amarelos, forçados!

Não dá pra desejar felicidade à humanidade. Porque ela prefere ser infeliz. Mas se de ilusão também precisamos para viver, ao menos seja de qualidade, como um bom livro ou disco de música dignos, belos, poéticos. Preservemos nosso mundo pequenino, estendido àquelas pessoas que amamos. Sejamos anormais numa humanidade que já não sabe mais o que é normalidade há muito tempo.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Consciência Obscura


Como não escrevi sobre o Dia Nacional da Consciência Negra, deixo uma charge do Carlos Latuff (o link para o site dele está na lista dos Toques Divinos), que expressa de algum modo o que penso acerca da igualdade racial no Brasil.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Frases que marcaram época...

...e com algumas tentou-se mudar o mundo:

O sonho acabou. (John Lennon)

Hail, Hiltler! (Saudação nazista)

Proletários de todos os países, uni-vos! (Marx & Engels, no Manifesto Comunista)

Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria. (Machado de Assis, em Memórias Póstumas de Brás Cubas)

Deus está morto. (Friedrich Nietzsche)

O Estado não é uma ampliação do círculo familiar. (Sérgio Buarque de Hollanda, em Raízes do Brasil)

Só a antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente. (Oswald de Andrade, no Manifesto Antropófago)

Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá. (Gonçalves Dias, na Canção do Exílio)

Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas . (Antoine de Saint-Exupéry, em O Pequeno Príncipe)

É proibido proibir. ( Caetanto Veloso)

Diretas já!

Ama teu próximo como a ti mesmo. (Jesus Cristo, nos evangelhos)

Um dia o sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão. (Antonio Conselheiro)

É um pequeno passo para um homem, mas um passo gigantesco para a humanidade. (Neil Armstrong)

Só sei que nada sei. (Sócrates)

Vim, vi, venci. (Júlio César)

Paz e Amor. (Lema hippie)

O nordestino é antes de tudo um forte. (Euclides da Cunha)

Lula lá é a esperança...

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Corvos, escrivaninhas e um absurdo


"Por que um corvo é parecido com uma escrivaninha?", pergunta o Chapeleiro à Alice, aquela do País das Maravilhas. Como todos aqueles que já leram o clássico de Lewis Caroll, também assustei-me com a charada, bem como fiquei um tanto frustrado pelo fato de o propositor não revelar o segredo.

Para mim, corvo e escrivaninha não possuem quaisquer semelhanças, senão em alguns casos à exceção da cor preta. Se a escrivaninha for amarela, perde-se a conexão. Alice foi embora sem resposta.

Eu estou a todo instante sem entender as tantas charadas da vida. Uma delas, o amor. Como esse substantivo concreto se tornou abstrato, quase indispensável? Possivelmente "aquele amor" é uma brincadeira de mau gosto, que jamais superará o fraterno e o respeito. Ou haverá mesmo uma ligação verossímil entre corvos e escrivaninhas?

O amor é fogo que arde sem se ver, absurdamente.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Literatura


Literatura não tem função social. Sua função é, antes de tudo, sentimental. Daí a alguém se comover com um poema e depois querer mudar o mundo é uma decisão desse alguém. A literatura não pode negar sua natureza, mas pode ser negada, porque o conflito humano independe dela. Pode ser usada como um instrumento, contudo nunca usará ninguém. Àqueles que se rendem à catarse, coragem, a vida é bem menos poética que a morte.

Autoria da tira: Laerte (Manual do Minotauro)

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Labirinto


Com vocês, uma das minhas criações artísticas usando o supereditor de imagens, o Paint.

"Computadores fazem arte..." (Chico Science & Nação Zumbi)

Era uma vez um labirinto...

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Sertão, meu lar


O sertão é o nosso lar.

Este é um lema, um mantra que Fernando e eu repetimos constantemente, pensado num momento difícil de nossas vidas, quando meu mais que amigo, mais que irmão sofrera um grave acidente que comprometera quase quarenta porcento de sua memória. Hoje, está tudo bem, muito bem...

Voltar ao sertão é necessário, tal qual recarregar as baterias do meu telefone celular. Sentir o frio da serra seja dia ou noite. Saber que as pessoas continuam sonhando com uma casa maior para receber mais visitas, compartilhar mais. Só para constar: desta vez, como das outras, só não trouxe um saco (isso mesmo, um saco) de feijão, porque o nosso bravo automóvel locado não suportaria tanto peso. E é bom saber que as novas gerações estão mudando, mas conservam a simplicidade, o desapego, a boa vontade, a sinceridade, esses sentimentos nobres que estão se perdendo.

Tenho raízes profundas no sertão: minha mãe e toda a sua família é sertaneja. Sempre fico emocionado de algum modo quando escuto Luiz Gonzaga, leio um cordel, vejo uma imagem peculiar. Para mim, é um paraíso que se esconde por trás do azul horizontal que se percebe na estrada, a oeste onde o sol dorme.

O sertão é mágico. Na verdade, não sei como defini-lo.

domingo, 23 de agosto de 2009

Saudades a-gosto (2)


Agosto, portanto, é um mês de saudades. Como saudade pressupões tempo, vale ressaltar que agosto é o mês do meu dia. Tempo em que o tempo me carrega à revelia, sempre. Num instante resumo minha vida: de menino tímido a adolescente tímido, perdi, pelas minhas contas, muito, tanto que dediquei boa parte dos últimos dois anos tentando recuperar, quem advinha?, o tempo perdido. Pensando bem, nem tão perdido assim.

Era muito mais simples sair de casa e encontrar os amigos para brincar, juntar vinte meninos de bicicleta e percorrer os limites da terrinha, havia paciência para contar, inventar e ouvir estórias, assistir desenhos animados considerados hoje inadequados, violentos como Pica Pau, Tom & Jerry, Cavaleiros do Zodíaco, Caverna do Dragão, Papaléguas, os seriados japoneses Jaspion, Changeman, Jiraya etc., os filmes do Indiana Jones, Robocop, os do Chuck Norris, Rambo, do Van Damme, todos na sessão da tarde. Nunca quis jogar uma bigorna na cabeça de ninguém, tampouco matar meus colegas de classe.

Ah, jogar video game! Era um ritual: não lanchar na escola, almoçar assistindo os últimos desenhos e me danar pra locadora. Ainda curto muito, sobretudo, o Nintendo. A propósito, o Super Mario World, aquele do Yoshi, é o melhor game de todos os tempos, seguido de Superstar Soccer e Top Gear. É diversão garantida.

Tempo sem muitas complicações.

Neste mês augusto, completam-se vinte anos de sublimação de duas personalidades simplesmente altíssimas: Luiz Gonzaga e Raul Seixas. Planejei escrever um post sobre eles. Basta dizer que isso só me torna mais saudosista, essas datas redondas. Saudades desses reis.

Pois é, em agosto o saudosismo aflora. Fica difícil terminar este texto. Depois se der vontade de escrever mais, escreverei.

Saudade: tempere a-gosto.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Saudades a-gosto (1)


O saudosismo tornou-me um apreciador do passado que não vivi, na maioria das vezes. Sempre digo que nasci na época e lugar errados, gostaria de ter vivido o romantismo, a psicodelia, a contracultura e a rebeldia dos anos 50, 60, 70 e 80. Por conta disso, às vezes, transformo-me em alienígena dependendo de onde e com quem estou. Como reza o saudosismo, acredito que tudo de bom em termos de vida e arte (música especialmente) já foi feito. E sinto saudades.

A saudade, porém não é espontânea em sua totalidade, há um fator mídia. Por exemplo, como gostaria de ter estado em Woodstock 40 anos atrás! Ah, um show do Legião Urbana, Pink Floyd, Nirvana, Raul Seixas, Luiz Gonzaga, The Doors, The Who, Elvis Presley, aquele, aquela, são tantos! Neste ano realizei o sonho de ir a um show de Paralamas do Sucesso e Titãs durante o Festival de Música e Arte de Garanhuns, ano passado foi Biquini Cavadão, Cidade Negra e Zeca Baleiro (este em Maceió debaixo de muita chuva, mesmo!).

No entanto, um fator é primordial, quase imanente, hereditário: minha MÃE. Ela me ensinou a gostar de Roberto Carlos e de uns clássicos que tocavam na vitrola de Ciço Fumeiro, naturalmente. Sou apaixonado pela infância dela, simplesmente perfeita. Roubar manga, goiaba, brincar livremente, sonhar livremente. Oxe, bom demais! E o sertão? Convido-te a conhecer, se conhece, a voltar. O sertão é o nosso lar, repete em coro um sertanejo amigo meu. Graças à mãinha eu sou assim, mais feliz que triste.

Hoje, as coisas são muito sem graça, sem poesia, sem sentimento, sem aquela ingenuidade que dava às coisas beleza. Hoje, quem se espanta com as inovações tecnológicas? Conheço sertanejo que não acredita que o homem foi à Lua, eu mesmo não creio de todo. Hoje, quem valoriza a cultura popular? Os mais velhos, nossos remanescentes que morrerão sem poder transmitir seu legado.

Minha irmã adora chamar-me de abestalhado. E sou. É uma tremenda besteira sonhar com o passado, mesmo o passado vivido. Mas não consigo me desvencilhar dessa alegria tristinha, impossível. Nem quero. Afinal, como diz Graciliano Ramos em Angústia:

A minha pátria era a vila perdida no alto da serra, onde a chuva caía num neblina que escondia tudo. Se eu tivesse ficado ali, ignoraria o resto do mundo.

Não fiquei lá, infelizmente.

sábado, 1 de agosto de 2009

Meu dia


Das coisas que mais me atêm, o tempo sobressai-se. Não celebro datas, mas as pessoas. Como os dias são indiferentes aos seres vivos, decidi sê-lo também para com ele. Logicamente, não é uma medida eficaz. Tornar-me senil nenhuma ojeriza me causa. Antes às vezes sinto uma sensação de conforto quando imagino uma vida feliz, onde tudo ocorre bem. Tomara que a velhice, se eu chegar até ela, seja calma, serena e repleta de pessoas amadas.

Completar mais um ciclo de dias não confere mais alegria ao meu dia. Costumo dizer que sou meio hedonista, embora acanhado demais para certas aventuras, ou ocupado demais para subtraí-las. Há muito daquela coisa do "tô a fim".

Bem, hoje é primeiro de agosto, como negar? Ano que vem haverá outro. E a minha retórica resume-se a copiar uma estrofe de "A palo seco", clássico do poeta Belchior:

Tenho vinte e cinco anos de sonho
E de sangue
E de América do Sul.

Por força deste destino,
Um tango argentino

Me vai bem melhor que um blues.
Sei, que assim falando, pensas

Que esse desespero é moda em 73.

E eu quero é que esse canto torto,

Feito faca, corte a carne de vocês.

Choverá hoje?



Crédito da imagem: Pedro Sacadura / Título: 2809382 (in Olhares.com, link ao lado)

terça-feira, 21 de julho de 2009

A Lua


Há uns dias, em especial de ontem, quando se comemorou 40 anos da chegada do homem à Lua, até hoje, se tem falado muito sobre nosso satélite. Ao longo desses anos surgiram muitas teorias conspiracionistas sobre o episódio. Eu mesmo tenho minhas dúvidas. Porém, como bem ressaltou Saramago, o grande passo da humanidade não foi dado. Gerald Thomas também disse algo interessante aqui. Li outras coisas nos poucos sites que acesso diariamente. Estes bastam, pois concordo com a opinião de ambos.

A Lua inspira-me, dá-me alento quando abro a porta do quintal e vejo-a refletindo no Mundaú, iluminando a ponte e tudo mais. Postei um registro fotográfico de um momento assim aqui outro dia. Quem já esteve no sertão sabe que aquela canção não mente, sim, lá o luar é mais bonito.

Para mim, o importante é que ela continua lá em cima.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Odiar

Odiar não é pecado. Mas um sentimento humano tal qual amar, seu extremo antagônico. A loucura reside em ambos. Continuando, são prescindíveis razões para odiar ou amar. Há mais interesses que ódio por trás das guerras, a irracionalidade serve de meio à obediência cega. Até hoje o amor não conseguiu salvar o mundo.

O ódio aparenta ser um incômodo provocado por alguém que desperta como proteção. Parece impotência diante da insistente dissuasão do outro. Manifesta-se através da inveja. Efeito de uma causa. Deve haver uma maneira de odiar para cada uma de amar, basta o ato contrário.

Os antagonismos estão mais para criar dúvidas do que separar certo e errado. Nem sempre uma bala é lançada por ódio, como nem todo beijo é por amor. Enquanto o mundo não retorna ao Éden, algumas pessoas tentam reconstruí-lo, embora odiando os destruidores, uma forma de defesa contra a corrupção. É estranho.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Até logo, Michael


Michael Jackson subiu. Pouquíssimos artistas da música frequentam o cânone do meu imaginário, e ele está lá entre Renato Russo, Raulzito, Cazuza, Kurt Cobain, os Floyds, Belchior, apesar dos escândalos, da mudança misteriosa de cor etc. Obviamente, ele está longe da majestade genuína desses caras aí. Mas marcou tanto que é impossível não sentir sua falta.

Naquela época gostosa do videocassete nenhuma fita competia com uma contendo os clipes do Michael. Passávamos horas na casa do amigão Edilson Vilar vendo e revendo a fita. O Mudo mais conhecido de Brank City viu tanto que aprendeu os passos antológicos do Rei do Pop. Até hoje dou muita risada com a cena. Desconheço pessoa que mais o admire quanto Fabrício Doido, outro irmão. Ultrajava a imagem do Michael na presença dele só para irritá-lo. Brigamos certa vez, porque ele rasgou uma página de revista com uma foto do seu ídolo. Depois tudo se reverteu em risada.

Ainda não vi clipe melhor que o Thriller. Dava medo aquela transformação de vivo para vivo-morto (que hoje percebo tão tosca!). Porém, não ousava sair da sala. Ficava compenetrado com aquela dança. Alguém aí consegue dançar melhor?

Deixou-me de luto. Valeu, Michael!

*A imagem é do gênio Carlos Latuff,
que está linkado ao lado =>

domingo, 21 de junho de 2009

Tédios

Tédio. Não sou pessoa de grandes aventuras, mas não consigo suportar tanta mesmice. Cansam-me as notícias, os esportes que acompanho, a Internet que cada dia me torna mais dependente dela, a comida da geladeira. Um saco! As pessoas me perturbam, e o mais grave, a algumas nem devo satisfações de quaisquer naturezas. Meu mundo encurtou-se novamente.

Tédios cotidianos. De todos eles, claro, as pessoas se sobressaem. Quando entraram no rio e me encontraram diminuíram, ou eu cresci. O ambiente tornou-se sufocante e superado. Preciso agachar-me vez em quando, falar mais alto para ser ouvido, desacelerar, calar para não quebrar um espírito inflexível. O problema reside em mim, também. Eu seria imperfeito se não reconhecesse isso. Mas, poxa, por que nenhuma conversa me interessa de verdade? Ou, por que ninguém me escuta?

Não me recomendem psicólogo, analista nem profissional da área. A literatura, a boa música e os poucos amigos-irmãos são-me suficientes. Tento ser mais otimista, Murphy não deixa. Bom, para tanto tédio, suponho que estas palavras bastam.

sábado, 23 de maio de 2009

Atarefado

Se você visita este blog, demonstra algum interesse nas minhas palavrinhas. Isto aqui é o resultado de momentos preciosos de ócio e inspiração, é necessário as duas coisas juntas pra sair coisa conveniente a este espaço. Pois a maior parte do que escrevo jamais colocaria na Internet sem antes registrar num cartório. Cada poesia, cada conto é como um filho ou carne da minha carne. Seria ultrajante navegar por aí e encontrá-los em alguma ilha sem a devida autorização ou autoria. Mas isso é besteira!

O tema deste post é sobre um aspecto do cotidiano que tem se tornado mais preponderante à medida que vivo, os trabalhos. Todos, o magistério e a burocracia, na qual fui recém-iniciado, mais os trabalhos da universidade. O tempo, ah, o tempo!, flui à mesma velocidade, contudo as tarefas, sempre urgentes, não me deixam aproveitá-los como se deve. Quando chega o sábado (agora estou livre aos sábados) fico zanzando dentro de casa, brigando com meu irmão pela posse do PC ou babando meu sobrinho. E vem a preguiça... eu vou enrolando, protelando tudo pra mais tarde. Então, as tarefas se tornam mais urgentes. O jeito é dormir tarde estudando, estudando.

Muito se fala dessas doidices da pós-modernidade: falta de tempo, excesso de trabalho, estress, dores na coluna, engarrafamentos nas avenidas metropolitanas, mas o pior de tudo é o isolamento, a frieza de só ter oportunidade de conversar via Internet (às vezes alguém desconhecido, distante), o receio de sair de casa por medo da violência. Insensatez. Pow, o cidadão comum enfrenta um cotidiano do cão e ainda tem de aguentar na mídia um monte de sacanagem.

Mas eu moro no interior, um latinoamericano quase belchioriano. Eu não enfrento com tanta intensidade o cotidiano como aqueles das grandes cidades grandes. O problema é que sinto como se não fizesse parte disso tudo, mesmo o tudo pequeno. Não é preguiça de trabalhar, é o tédio da rotina que me zanga (zanga amiúde exponenciada pela presença de pessoas desinteressantes). Até o ócio cansa.

Ainda bem que existem momentos mágicos sazonalmente, à base de Rock'n Roll, destilados, tagarelice, riso e outros sabores. Nem sempre há tudo ao mesmo tempo(!), o que não torna o momento menos prazeroso. É assim que desafogo, passeio no Olimpo, não, no céu dos muçulmanos que é mais interessante! No outro dia, o reinício ou a ressaca. O cotidiano, as tarefas nunca recusam a voltar.

De qualquer modo, preciso de férias.


segunda-feira, 4 de maio de 2009

Impalpáveis

Quando comprei uma câmera digital, isso há uns quatro anos, saía fotografando tudo, tornei-me um apertador de botão profissional. Hoje, minha Olympus Camedia D-435 jaz no cemitério dos aparelhos quebrados. No meu baú de coisas impalpáveis (um HD externo que deu pau) jazem centenas de imagens, dentre outros arquivos, acumuladas desde a aquisição do nosso primeiro PC. Antes de perder a chave do baú, revirando-o encontrei essas fotos abaixo. Gosto delas.



sábado, 25 de abril de 2009

Sublimação

Sublimação: em Química, passagem do estado sólido para o gasoso (sem passar pelo líquido). Na minha débil ciência especulativa, é o que acontece com pessoas extraordinárias que deixam este mundo e vão sei lá pra onde, céu, inferno, além, depende da crença, ou simplesmente para a terra.

Domingo, sublimou-se um amigo muito querido, que me mostrou outra forma de crer no transcendental diferente do catolicismo. Antigamente nem nos falávamos bem quando viera morar na "minha" rua, em Brank City. Com o tempo, percebi a pessoa inteligente e divertida por trás daquele azedume cotidiano. Tornamo-nos amigos. Era o Edvaldo Júnior, o Junim Covardim, como denominávamos o seu sarcasmo peculiar.

Hoje, recebi a notícia, mais uma triste notícia, da sublimação de um brother que dispensa comentários, como se diz. Wilton, o baixista fenomenal, o filósofo irrequieto, o cara simpático de cabelo black power e sorriso cativante, sublimou-se.

Diletos leitores deste blog, pelo último post vocês já devem ter percebido o quanto amo e estimo meus amigos. Amo a todos, embora eu nem diga isso para alguns, pois é desnecessário. Esta semana foi muito infeliz, apesar de toda a euforia extravasada nos shows d'Os Paralamas do Sucesso e Titãs (iria escrever sobre isso, ainda bem que não tive tempo). A tristeza é sempre mais forte que a alegria, e esta é tão efêmera... fugaz.

Agora esses irmãos que sublimaram aguardam por nós.

Wilton e Junim, obrigado, muito obrigado mesmo! Vocês me deram alegrias e boas lembranças. Até logo!

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Reconstruir

Reconstruir... é necessário, mas cansa. Estou cansado de ter de reconstruir o mundo, reconstruir a sociedade, reconstruir os fragmentos que formam as coisas, reconstruir o reconstruir. Que dança interminável é essa? O que vejo, se é uma realidade real, se existe, é um processo avançadíssimo de destruição. Escatologia, dir-se-ia.

Um dos meus melhores amigos sofreu um acidente, deslizou nas escadarias e bateu a cabeça. Perdeu 40% da memória, aproximadamente. Das poucas lembranças que ainda tem sobre amigos e demais pessoas de seu entorno, lembrou-se de mim, da minha fisionomia, nome, o que faço. Em geral, são recordações muito recentes das últimas conversas que tivemos por telefone ou MSN. Evaporaram-se os grandes momentos que passamos juntos de alegria e tristeza. Coube a mim e a outros a missão de ajudá-lo a reconstruir sua memória, e, por consequência, sua afetividade. Minha primeira atitude foi montar slides com fotos e textos de alguns momentos inesquecíveis (!).

Surpreendi-me porque não caí aos prantos nem perdi a vontade de fazer as atividades cotidianas. Já chorei muito em conversas telefônicas quando me contara sobre os flagelos sofridos no Rio de Janeiro. Hoje, simplesmente não entendo a ausência das lágrimas. Temo que isso seja um passo à insensibilidade que tanto combato.

Parece que estou vivendo um capítulo de novela daqueles onde o protagonista perde a memória. Jamais imaginei uma situação dessa em minha vida. Na ficção "tudo sempre acaba bem", o herói recupera as perdas e volta para os braços da mocinha, e neste intervalo mata o vilão. Na realidade, essa realidade real, sobra a esperança lonqínqua de que tudo re-torne. Afinal, não está tudo lá ainda na cabeça dele, porém desconectado? (Se você que lê esse texto souber algo de neurologia, explica-me melhor, corrige-me).

Enquanto a natureza não responder, vou tentando como me é possível ajudá-lo. Ponho a massa esperando o tijolo.

Fernando, meu irmão mais velho, nem a sua desmemória me fará desistir de ti. Porque eu te amo.

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WILTON, estamos aguardando-te!

terça-feira, 17 de março de 2009

Lição: amar

Escrevi este texto após ver o filme "Sete vidas" (Seven pounds, in English), que tem como protagonista Will Smith. Em seguida, recordei de "Mar adentro" (ver aqui), com o espetacular Javier Bardem. Sou poeta (pelo menos para meus amigos, obrigado!), não tenho medo de expressar meus sentimentos. A arte é humana.

Eis o texto.


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Quando eu lia a Bíblia cheguei a conclusão de que o maior mandamento (está lá dito claramente) era "amar o próximo como a si mesmo" (apesar de tentarem me persuadir que deveria seguir os dez). E indaga João, o discípulo amado, acerca do paradoxo que é dizer: amar a Deus (invisível) sem amar o próximo (visível). Pois é, não se chega ao infinito antes de passar pelo limitado. Não se chega ao divino desviando-se do humano. Para mim, este é o sentido da história de Jesus. A salvação da humanidade cabe a nós mesmos, depende largamente dos nossos atos, da capacidade de amar sincera e plenamente.

Então, pergunto-me: o que sou capaz de fazer pelo outro, ou até onde poderia ir, gratuitamente? Esta é difícil de responder. Eu seria capaz de ser um comunista, de dividir meus bens e morrer com meus concidadãos? Fato inegável é meu amor aos que me amam.

Meu coração fica atormentado, às vezes, com as atrocidades do mundo real, e na maioria das vezes nem tanto. Gritos lá de fora invadem meus ouvidos, uma algazarra qualquer na rua. Permaneço impassível, certo de que ninguém dos meus está lá. Nego esmolas, dou esmolas, depende do momento. Sou movido à circunstâncias (quem não é?). Porém, tento melhorar. Tento amar sem medo, sem reservas, fazendo o máximo para não decepcionar as pessoas. Preciso preservar o pouco amor que ainda me resta.

"É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã..." (Renato Russo). Este é um texto que persiste, não se deixa descontinuar. As palavras acabam aqui. A lição de amar continua.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Educação...

Educação foi a palavra mais marcante desde o último post. Ontem, discuti com meus queridos colegas de faculdade o significado e utilidade desta palavra na sociedade. Ressalte-se que somos, alguns, professores, outros, pais. Concordamos que se trata da transmissão dos saberes acumulados por cada grupo humano, portanto não é viável um método universal dadas as particularidades culturais existentes. A polêmica interna se deu em torno da função social da educação: "A educação atende as demandas do século XXI?", fora a questão proposta. Para alguns, como minha adorável amiga Cícera Paiva, a Digníssima, imbuídos do fervor humanista, a educação, resumindo, não era eficiente devido a exclusão que ela mesma promove nas circunstâncias atuais. No outro pólo, posicionei-me afirmativamente, pois acredito que nosso modelo educacional é voltado para a produção de mão-de-obra (barata) que servirá à manutenção do sistema capitalista. Mas, claro, isto é apenas uma constatação.

Sou professor (esforçadamente, favor não confundir com "forçadamente"), acredito no poder da Educação de qualidade, humanista e, por que não, revolucionária. Não posso negar que meus alunos e eu estamos à mercê do sistema, que para suprir nossas necessidades mais básicas é imprescíndivel a troca de moeda por mercadoria. Não podemos fugir do sistema, entretanto temos as "armas" para provocar as mudanças necessárias (quando faremos isso, sei não).

Numa perspectiva idiossincrática, comparo a educação à domesticação de animais. Isto ocorreu de fato, basta conhecer um pouco de nossos ancestrais. Com o tempo o ser humano animalesco cedeu ao "civilizado", submisso aos contratos sociais em prol da sobrevivência. Chegou a Revolução Industrial, com ela o Capitalismo, e nós tivemos novamente de ceder em virtude da assimilação do status quo vigente. Fomos adestrados a manejar máquinas e a aceitar um salário miserável, o nosso capim.

Se por um lado, como professor, tenho de preparar meus alunos para o ingresso no sistema, do outro, não posso me esquivar de incitar neles o desejo de mudança, uma visão crítica da realidade. Penso que esta é a postura mais razoável de um educador nesse século. E não estamos falando aqui de ressuscitar o socialismo, prefiro a dignidade humana a qualquer sistema político-econômico.

domingo, 1 de março de 2009

Pós-Carnaval

Acabou o Carnaval. Da folia desses dias restou a tinta num canto da pia do banheiro, que ninguém se importou de tirar, há também nas paredes de alguns prédios públicos e nas roupas ainda não lavadas, embora hoje seja domingo pé-de-cachimbo. A tristeza do pós parece ser bem maior que a alegria do momento. Na Quarta-feira de Cinzas, a ressaca e as dores no corpo impedem alguns católicos de começar bem a Quaresma, outros como eu, não-religiosos, tentam curar a ressaca e a má digestão, esquivando-se das eventuais pilhérias dos amigos que não beberam tanto quanto, ao sair de casa tenta-se esconder o rosto da menina que deu um fora. O pós é bastante deprimente.

Só ano que vem, Carnaval, você nos alegrará novamente.

O dias de Carnaval têm um efeito sobre as pessoas de tal modo que outros raros conseguem reproduzir. Homens se alistam no Bloco das Quengas (o melhor de Brank City!!!) há 36 anos, fazendo a maior algazarra na feira de domingo, crianças jogam qualquer coisa que sirva pra melar o outro, os adultos idem, crentes abandonam os cultos, "certinhos" apresentam a face errada, senhoras e senhores de grande idade pulam com os mais jovens saudosamente.

Fora os inconvenientes, Carnaval, você nos alegra sempre.

Já sinto saudades do Carnaval como que fosse um amigo de longe a visitar-me uma vez ao ano. Portanto, meu amigo, eu te espero.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Desconjuntamento

Fraco, tão fraco, tão... desconjuntado. Vou passando e deixando meus pedaços, sem saber o que quero de mim ou se realmente preciso de algo. É uma fraqueza tornada silêncio, escuridão ao meio-dia. Ainda consigo sorrir com algumas notícias, com meus amigos. Porém, cansado de fazer as mesmas coisas. Bato o pé, cruzo os braços impaciente. Porra, eu tenho de me embriagar de novo!

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

O humano virou bicho

Passamos despercebidos aos olhos da multidão com nossos trajes semelhantes, com nosso silêncio. Também não notamos nos outros, a não ser que estejamos movidos por uma curiosidade bizarra de descobrir quem são só de olhar. A menina do caixa, mesmo que sorrindo, esquecerá nossos semblantes em pouco tempo, por isso se há algo errado voltemos logo lá. Você lembra a cara do rapaz que nos entregou um folheto? Todos os dias, na rotina diária, trafegamos as mesmas ruas. Ainda assim, deixamos algo. Você se recorda de alguns colegas de classe com os quais pouco ou nenhuma vez conversamos? Eu também não.

Na verdade, é tudo mentira. Há sempre alguém que nos nota do mesmo modo que o notamos. Desacostumamos com o fato de que os outros são como nós. Sim, lembramos, percebemos e ignoramos tudo isso, para mantermos nosso patamar de orgulho e individualismo sempre alto.

Eu sou egoísta, repito neste espaço mais uma vez. No entanto, não o sou somente pela paixão de ser, fui me configurando a esta forma. Pergunto-me quanto de mim sou eu mesmo. No geral, as pessoas são o que as outras são. Bichos paradoxais.

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O bicho

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.


(Manuel Bandeira)

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Guerras

Quando os Estados Unidos invadiram o Iraque no começo desta década, eu reescrevia as notícias da guerra em uma agenda. Não demorou muito, desisti. Cansei logo de indignar-me sem ter como fazer algo imediato por aquele povo que sofre até hoje em nome da loucura desse Bush, que termina seu mandato no próximo dia 20 de janeiro.

Estamos assistindo em tempo real uma nova velha guerra entre Israel e Palestina. Não reescrevi nenhuma matéria, apenas resignei-me a indignação. Um combate injusto, do ponto de vista humano e estrutural bélico, pois são, por exemplo, 520 caças israelenses contra nenhum palestino. Mas, claro, minha indignação é pela morte de tantas pessoas de ambos os lados. Como dizem, nenhuma mãe quer ver seu filho morto, ou melhor, destroçado por um míssil e entregue em pedaços, acompanhado das despesas do funeral.

Não muito patriota, estou longe, anos-luz, do ufanismo. Porém, diante desses acontecimentos, no mínimo, sinto-me seguro aqui na Terra do Nunca 2. É válido relembrar a guerra cotidiana, que alguns chegaram a dizer "não-declarada", com que convivem os cidadãos das grandes cidades deste país. Fico mais saudosista dos tempos que não vivi. Meu remédio é escrever. Placebo.

Tomara que um dia os povos do Oriente Médio possam viver muito mais que acordos falsos, a paz verdadeira.