segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Despertencimento

Eu pensava que iria me divertir como na última noite. Botei uma roupa legal, meu sapato mais bonito, perfume de marca reconhecida que ganhei num amigo secreto. Saí na companhia de meu irmão, que carregava orgulhosamente uma garrafa de destilado caríssimo, incompatível com nossos honorários.

Naquela noite, eu bebi muitas cervejas e doses de sei lá o quê que me deram. No outro dia, ressaca terrível, contudo alma satisfeita. Esta noite não correspondeu às minhas expectativas. Acabou o destilado e, assim como a garrafa, esvaziei-me. Tomei a água com gás que tanto recomendou-me minha tia orgulho da família no quesito beleza a fazer todas as vezes em que consumisse tal bebida.

Música ruim rolando, um monte de pessoas conhecidas e, portanto, mais desconhecidas do que as desconhecidas. Não suportei estar lúcido naquele ambiente. Porque o destilado de que falo tem esse poder de embriagar-me sem me amalucar, como o vinho. Ainda bem que não sentiram minha falta, pois não conseguiria dar outra resposta pela ausência senão "não sei". Agora, eu sei o porquê, claro. Senti-me despertencente àquele lugar, àquelas pessoas.

Entendo a embriaguez contínua de Vinícius de Moraes enfim. Para suportar tanta futilidade e tédio, no meu caso, somente estando fora de si. É incrível a incompatibilidade de interesses entre mim e meus conterrâneos. Por isso tenho tão poucos amigos por aqui. Presumo até o tipo de comentários que destilam sobre mim, pena que não é whisky.

Esforço-me para aproveitar ao máximo as festas populares da terrinha, a combater o tédio. Entretanto, a garrafa sempre termina vazia. E eu também.