segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Saudades a-gosto (1)


O saudosismo tornou-me um apreciador do passado que não vivi, na maioria das vezes. Sempre digo que nasci na época e lugar errados, gostaria de ter vivido o romantismo, a psicodelia, a contracultura e a rebeldia dos anos 50, 60, 70 e 80. Por conta disso, às vezes, transformo-me em alienígena dependendo de onde e com quem estou. Como reza o saudosismo, acredito que tudo de bom em termos de vida e arte (música especialmente) já foi feito. E sinto saudades.

A saudade, porém não é espontânea em sua totalidade, há um fator mídia. Por exemplo, como gostaria de ter estado em Woodstock 40 anos atrás! Ah, um show do Legião Urbana, Pink Floyd, Nirvana, Raul Seixas, Luiz Gonzaga, The Doors, The Who, Elvis Presley, aquele, aquela, são tantos! Neste ano realizei o sonho de ir a um show de Paralamas do Sucesso e Titãs durante o Festival de Música e Arte de Garanhuns, ano passado foi Biquini Cavadão, Cidade Negra e Zeca Baleiro (este em Maceió debaixo de muita chuva, mesmo!).

No entanto, um fator é primordial, quase imanente, hereditário: minha MÃE. Ela me ensinou a gostar de Roberto Carlos e de uns clássicos que tocavam na vitrola de Ciço Fumeiro, naturalmente. Sou apaixonado pela infância dela, simplesmente perfeita. Roubar manga, goiaba, brincar livremente, sonhar livremente. Oxe, bom demais! E o sertão? Convido-te a conhecer, se conhece, a voltar. O sertão é o nosso lar, repete em coro um sertanejo amigo meu. Graças à mãinha eu sou assim, mais feliz que triste.

Hoje, as coisas são muito sem graça, sem poesia, sem sentimento, sem aquela ingenuidade que dava às coisas beleza. Hoje, quem se espanta com as inovações tecnológicas? Conheço sertanejo que não acredita que o homem foi à Lua, eu mesmo não creio de todo. Hoje, quem valoriza a cultura popular? Os mais velhos, nossos remanescentes que morrerão sem poder transmitir seu legado.

Minha irmã adora chamar-me de abestalhado. E sou. É uma tremenda besteira sonhar com o passado, mesmo o passado vivido. Mas não consigo me desvencilhar dessa alegria tristinha, impossível. Nem quero. Afinal, como diz Graciliano Ramos em Angústia:

A minha pátria era a vila perdida no alto da serra, onde a chuva caía num neblina que escondia tudo. Se eu tivesse ficado ali, ignoraria o resto do mundo.

Não fiquei lá, infelizmente.