quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A esquizofrenia nos une


A esquizofrenia é uma patologia séria, mais comum do que imaginamos e pode contemplar qualquer um de nós. (Ufa! Não estou sozinho nessa). Além de grave, a doença tem um lirismo encantador em casos específicos como daqueles loucos que falam e fazem coisas maravilhosas de ver e ouvir, é o sujeito que colhe flores e distribui às crianças e moças, aquele que se diz deus ou profeta, a mulher que corre nua na rua, o mendigo que recusa a esmola ("Não quero esse pagamento, não!"), o Geno Doido, colecionador de ximbra nos bolsos. Lembram da mulher que vendia poesia nas ruas de São Paulo? Como gostaria de conhecê-la!

A loucura está perto de nós, alguns fazem questão de mantê-la ainda mais próxima por pura necessidade de evadir-se. Neste sentido, todos os poetas são loucos, adoráveis loucos. Contudo, o esquizofrênico é um sofredor e não há lirismo algum nisso, pois é sofrimento na carne de verdade. 

A humanidade nunca recebeu dignamente os loucos, sempre os afastou da normalidade de nós outros. E como é bonita a atitude dos loucos esse tempo todo! Eles merecem mais de nossa parte por tudo o que nos ensinaram e por representar naturalmente os nossos medos. Até porque não são seres imaginários.

Ainda vejo a loucura como a expressão máxima do EU, com ponderação e respeito às pessoas que sofrem desse mal involuntariamente, pois nem sempre o romantismo apenas serve para legitimar algo, se é que legitima de fato. Aprendi a separar as coisas, a dividir o olhar para esses irmãos e irmãs.

Esquizofrenia é uma doença e tem tratamento, é um caso de saúde pública e uma obrigação da família buscar ajuda. Portanto, nenhum curandeirismo, nenhuma pregação ou exorcismo solucionará o problema dessas pessoas que tantas vezes preferimos nem ver. Então, respeito e dignidade aos líricos, aos loucos, adoráveis loucos, àqueles que nos pedem socorro em silêncio.

A esquizofrenia nos une, assim como a antropofagia, assim como o amor e o ódio.

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Imagem tirada daqui.