segunda-feira, 7 de maio de 2012

POESIA NÃO PASSA DE FANTAZIA


Em letras garrafais, a giz, num painel de madeira, assim estava escrito, sem ponto, vírgula ou exclamação. Alguém ao expor sua desilusão quanto à poesia, acabou criando uma. Poesia à revelia, desentranhada do mal-estar que o lirismo desperta-lhe. Poeta revoltado com seu material de trabalho. Protesto semelhante ao do movimento metropolitano "O amor é importante, porra", em sentido contrário.

Que alma é essa que tenta dissuadir-me com este grito mudo? Seu espírito seco o impele a alertar-me do perigo da poesia e sua fantaZia. Afinal, ela tem esse poder de sedução, e seduz, mas no final das contas deixa tudo fiado. A poesia sequer cura uma dor de cabeça. É de uma inutilidade tamanha para essa vida pragmática que conta os dias, distribui os números e descansa nas tardes dominicais. Poesia não passa de fantaZia e há muita pressa de viver, Belchior do paredão.

Retorno às palavras revoltas. Seria um haicai?

POESIA
NÃO PASSA
DE FANTAZIA

Um haikai (prefiro com k) concretista, se observada a forma que toma quando centralizado. Parece o desenho da parte superior do crânio (eu via exércitos de nuvens), onde está o cérebro, que por sua vez processa as fantaZias.  E que rima! Evidentemente, o poeta não pensou nisso e é natural ser assim. Poema pensado demais pode fazer sumir a poesia. Mário de Andrade aprovaria o "geito" do nosso poeta anônimo.

Pena que este protesto chegou atrasado demais ao meu sabimento. Evitaria tantos desatinos, economizaria tanta tinta de caneta, folhas de agenda, guardanapos de boteco! Jamais imaginaria certas coisas, veria o que ninguém vê. Mas... A fantaZia da poesia já tomou conta de mim, já criou eu's suficientes para outro mundo.

Consideraria o seu conselho, poeta, ilusão machuca deveras. Mas... Deixar a beleza do lodo na parede apenas para o Quintana? Não! Por quê? Porque agora é presente e nem todo pretérito pode ser mais-que-perfeito.

Hoje eu vi que apagaram a tua inscrição, amigo, e eu nem posso mais te corrigir. Grafa-se fantasia com S. Só poetas o fazem com Z.