sexta-feira, 10 de junho de 2011

Pós-enchente

A poucos dias de se completar um ano do evento que mudou a minha vida, a enchente, sinto-me ainda ligado pelas pontas ao dia anterior. No dia 17 de junho de 2010 fazia planos para mais um período de festividades juninas. Na sexta-feira, 18, percebendo que a chuva não cessaria, decidi deixar o trabalho e fui para casa. Ao chegar lá, minha família e eu fizemos tudo o que já era rotineiro nessas ocasiões. Penduramos os objetos nas paredes, levamos o maquinário e alguns móveis para lugares mais altos, fechamos as portas e saímos em busca de um lugar seguro,  quase às cegas, com água acima do joelho.

Longas horas depois de tanto choro, barulho de casas ruindo, frio, desespero, toda minha vida material tinha ido embora. Ficou o mais importante, a vida e as roupas que a cobriam. O resto desceu.

Mudamos temporariamente para a capital. Fomos abrigados pela minha prima doente, já incapaz à época. Foram os dias mais entediantes de toda a minha vida, sem comunicação, ilhado, deprimido pelas perdas e pela condição da minha prima. Era fácil chorar à noite antes de dormir, então disfarçávamos constantemente. Temia por meu pai em especial, o mais solitário de nós.

Permanecemos juntos, enfrentando nossas diferenças mais de perto e de modo mais contido por estarmos em terra estranha. Até que conseguimos alugar uma casa em União dos Palmares, e depois outra. Os amigos foram fundamentais nessas horas, tanto nos doando bens quanto gastando seus ouvidos conosco. Nunca esquecerei aqueles que não hesitaram em nos ajudar. Obrigado, amigos.

Ainda não me sinto em casa. Tudo é muito estranho, fico engasgado com certas coisas. Não suporto ver as ruínas deixadas pelo Mundaú. Volto à minha terrinha apenas quando necessário ou indispensável. Penso sempre nos meus amigos de lá, embora eu seja um tanto negligente. Sei que me compreendem. 

Ainda estou pendurado, como disse lá em cima. Porém, com uma tesoura pronta para cortar a linha numa mão e um compasso já descrevendo um novo ciclo, na outra. Em busca de novos dias, de novo.

Um comentário:

leo villar disse...

Bom meu amigo e irmão, sofremos muito
com tantas perdas, nossas historias foram varridas em questões de segundos, ficaremos marcados pelo resto da vida, fomos separados um do outro e sinto muita saudades das conversas, que tínhamos na praça, na igrejinha onde tinhamos a melhor visão da rua e falar das meninas gostosas qe passavam, sem falar também dos bebados de modo preferêncial do bode, esse sim muito cara lisa.
Perdemos muitas coisas mas a amizade ficou. Desde já te convido para o dia 19 se fazer presente em nossa querida branquinha, para uma grande caminhada com todos e todas, que sofreram e sofrem com a enchente de 2010.